Lá se vai mais um dos nossos
Os nossos estão indo embora - e eu constato isso com a maior bronca contra quem mexe as cartas do baralho pra escolher quem vai embora, e quem fica por aqui. Agora foi a vez de Ary do Cavaco, grande compositor da Portela (para a qual compôs cinco sambas-enredos campeões, entre eles "Lapa em três tempos", que em 71 deu o segundo lugar à azul-e-branco e para a qual Paulinho da Viola fez uma magistral gravação). Ary também assina pérolas do partido-alto, sucesso em qualquer roda de samba que se preze, como "Mordomia" (Ô, Maria, ô, Maria/vamos parar já/com essa mordomia/é de noite, é de dia/chega a sogra chega a tia) e "Reunião de bacana" (Se gritar 'pega ladrão'/Não fica um meu irmão).
Largadão, sempre com um sorriso meio ingênuo no rosto, Ary era o protótipo do sambista que corre gira, sempre disposto a pegar o microfone (quando o havia, claro) para marcar presença em rodas de samba pela cidade - preferencialmente, no eixo Zona Norte-Subúrbio, sua praia, que é onde o samba realmente come solto no Rio. Morreu aos 69 anos, pobre como a grande maioria dos compositores que não vivem de marketing, e tão talentoso como os maiores nomes da música brasileira. Fazer o quê, né? É a regra do jogo - uma regra abominável, que nos tira o prazer de ouvir, ou nos faz ouvir menos do que merecíamos, tantos e tantos artistas que fazem a cultura brasileira.
(Texto: Cesar Tartaglia)
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