quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Velha Guarda da PORTELA

A Velha Guarda da PORTELA, a mais respeitada do Mundo do Samba, é cheia de fatos que nos leva a relembrar belos momentos!

Argemiro Patrocínio, compositor portelense, contava que, certa vez, levado por Paulinho da Viola até Vinicius de Moraes e Chico Buarque, quando esses o provocam: “Quer dizer que você é sambista? Então faz um samba sobre essa garrafa.”

Argemiro, sem pestanejar, responde: “Eu não, não estou sentindo nada por ela.”

É por esta e outras que o mistério dos sambas da Velha Guarda da Portela, sua singularidade, está em que eles são, lá onde mais se diferem.

Os sambas de seu fundador, Paulo da Portela, e em outros de sambistas da primeira geração, como Alvarenga, encontramos letradas dedicadas à dura realidade do trabalho (“Cocorocó”) e do dinheiro (“Dinheiro não há”). Esses temas, caros à tradição transitiva da malandragem, atravessam a história da Portela. Basta evocar um de seus maiores clássicos, “Vivo isolado do mundo”, de Alcides Malandro Histórico, um partido-alto sobre o tema do malandro regenerado. Mas não é neles que se revela o mistério dos sambas da Portela.

Dentre vários motivos, muitos desses sambas cantam a natureza. “Linda borboleta” e “Cidade Mulher”, de Paulo da Portela; “Madrugada”, de Aniceto; “Lua cor de prata”, de Manacéa, entre outros.

Oswaldo Cruz, em seus primórdios e durante boa parte de seu desenvolvimento, era uma comunidade de atmosfera rural: “Morava-se na roça, mantinham-se os hábitos da vida simples do interior.” Era um mundo em que “passarinhos trinavam nos galhos. Galos cantavam nos terreiros”. Daí a ligação dos sambas com a natureza.

Ouvindo sambas como “O mundo é assim”, de Alvaiade, ou “Nascer e florescer”, de Manacéa, compreenderemos que o que se canta ali não é propriamente a natureza, no sentido de uma visão estática que se representa, mas a natureza enquanto origem, o que não cessa de emergir, o ser: “O dia se renova todo dia/ Eu envelheço cada dia e cada mês/ O mundo passa por mim/ Todos os dias/ Enquanto eu passo pelo mundo uma só vez”.

A natureza, assim, não é objetificada, mas percebida em seu devir permanente. O poeta se coloca na posição do espanto. Esse gesto, filosófico, de interrogar a vida, buscando penetrar-lhe os mistérios, é verificável em muitos sambas.  Em “Solidão”, de Argemiro, por exemplo, ou “Madrugada”, de Zé Keti (que não foi da Velha Guarda mas manteve laços com ela), em que o tema clássico da boêmia recebe um tratamento reflexivo.

Já nos sambas dedicados à inspiração, como o belíssimo “Inspiração”, de Candeia, ou “Minha inspiração”, de Argemiro, que remonta ao episódio envolvendo Chico e Vinicius.

Daí, podemos exemplificar a qualidade destes Portelenses em correlacionar o SAMBA com a ALMA!

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