quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PORTELA - Luto

Morre Tia Dora, a mais antiga pastora da Portela!



Morreu na tarde de ontem Doralice, às vésperas de completar 93 anos; dois a mais que Tia Dodô, sua grande inesquecível amiga, parceira, companheira de quase toda vida.

Nascida no Morro do Pinto em 1918, foi vizinha de Paulo Benjamim de Oliveira, na Rua Rego Barros.

Na década de 1920 sua tia Diva conquistaria o coração de Antonio Caetano, desenhista da imprensa naval responsável pela base da estruturação carnavalesca da escola que nascia.

Dora fora morar na lendária Fazenda Theófilo, na esquina da Estrada do Portela com Rua Joaquim Teixeira e que ocupava todo o quarteirão. Ali onde moravam o menino Natal, seu irmão Nozinho e sua irmã Vicentina, todos filhos de Napoleão Nascimento migrado para cá com a decadência da lavoura do café, vindos de Queluz no vale paraibano paulista.

Ali brincou de boneca com Vicentina e fez muita traquinagem com Nozinho junto à mangueira ainda hoje existente. Dali  veriam a Portela ser fundada por Paulo, Rufino e seu já tio Caetano. Viu a primeira bandeira ser bordada por Diva, a primeira águia ser concebida por seu tio.

Se esbaldou em muitos carnavais como pastorinha da Portela.

Ainda adolescente, quase diretora da “Vai Como Pode”, chefiava um grupo de operárias em uma fábrica de cartonagem na Rua Visconde da Gávea. Ali conheceu outra adolescente, também operária que passava a trabalhar sob sua supervisão: Maria das Dores, a menina que ela própria levaria para a escola distante de Oswaldo Cruz e transformaria na primeira porta-bandeira do primeiro título da escola.

Daí para frente se tornavam “unha e carne”, até hoje de tarde quando Dora foi embora. Dora um dia se casou, constituiu bela e sólida família e nunca mais voltou a Oswaldo Cruz.

Com filhos e netos criados, sua maior alegria era no carnaval. Ainda que só pela TV assistir sua escola na avenida. Aquela águia, tão íntima, aquela mesma bandeira, aquelas cores. Via ali aquelas imagens, lembrava das ruas descalçadas de Oswaldo Cruz, dos desfiles da Praça Onze e da voz potente e inesquecível de João da Gente, que tanto admirava.

Por vezes chorava. Sentia que para ela só o tempo passava, a Portela, nunca. Para o último carnaval mandei fazer para ela uma camisa da Portela meio a meio com a do Fluminense, seu clube de coração.

Teve uma grande alegria com o título do Fluminense. Pena não ter vivido mais um carnaval. Quem sabe veria sua escola campeã. 

Com certeza, dona Doralice viu este patrimônio cultural brasileiro nascer e se tornar figuara ímpar do carnaval do Brasil!

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