domingo, 7 de julho de 2019

PORTELA 2009 (Comissão de Frente)




O desafio do Rei Arthur na Avenida

Bailarino tinha que fazer acrobacia e saltar sobre a Távola Redonda, que estava toda rachada…

A melhor comissão de frente de 2009 foi a da Portela. Além de apresentar a melhor coreografia integrada ao enredo “E por falar em amor, onde anda você?”, o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda foram obrigados a superar os maiores desafios que surgiram, inesperadamente, na Avenida.

Tudo começou por volta de 18h30 de Segunda-Feira de Carnaval, com um telefonema vindo da Concentração. O então diretor Marcos Falcon informou ao barracão que a mesa redonda que seria usada pelo Rei Arthur e seus fieis cavaleiros da comissão de frente sofrera um acidente no transporte para a Avenida.

Na queda, a chapa de acrílico vermelho que revestia todo o tampo, tinha quebrado. Havia rachaduras na maioria das doze seções, onde os cavaleiros encaixariam seus escudos durante a performance. E o pior: uma das partes mais afetadas era o centro da Távola, onde o Rei se ergueria para saudar o público e apresentar a Escola.

PÂNICO – O coreógrafo Jorge Texera (é sem o i mesmo) ainda se encontrava no barracão conferindo as fantasias que seriam enviadas para o hotel onde os dançarinos estavam concentrados. Com a ajuda de diretores, conseguiu localizar o cenógrafo Glauco Bernardi, que fizera a decoração da Távola (e foi responsável pela criação da Águia). Os dois partiram para a Concentração com o objetivo de avaliar a gravidade dos danos.

Sem que houvesse tempo e material disponíveis para reconstruir o tampo quebrado, a única saída seria colá-lo, esperar a cola secar e disfarçar as rachaduras. A dúvida seria onde encontrar uma loja aberta àquela hora (já passava das 19h30), em pleno Carnaval.

Enquanto o coreógrafo partia para o hotel, a fim de alertar os dançarinos sobre o que estava acontecendo, o cenógrafo entrou no seu automóvel e foi tentar a sorte no comércio mais próximo do Centro. Encontrou um hipermercado ainda aberto, a poucos metros da quadra do Salgueiro, já no Andaraí. Lá, comprou caixas de durepóxi e uma fita adesiva usada em reparos de pranchas de surf, a silver paper.

O tampo da mesa (que também servia de encosto para o trono do Rei Arthur) foi todo restaurado com durepóxi e silver paper. As rachaduras foram disfarçadas com galões dourados, que passaram a servir de adornos. A expectativa agora seria a resistência da chapa, sobre a qual o Rei era jogado pelos cavaleiros no clímax da coreografia. Se o bailarino Thiago Soares pisasse fora do aro de ferro da parte central, certamente afundaria com o acrílico partido em plena Avenida, diante dos julgadores e do público.

O problema era tão sério que se cogitou a possibilidade de a comissão de frente abandonar a Távola Redonda num canto e seguir sem ela. Os riscos, porém, seriam muito maiores, pois ela era a base de toda a coreografia.

EMOÇÕES – Os reparos da mesa ficaram prontos por volta de 23 h – menos de duas horas antes de a Portela iniciar o seu desfile. Durante todo esse tempo, Texera e os cavaleiros ensaiaram a colocação de Thiago no centro da Távola, para que o bailarino memorizasse o local exato de onde deveria pisar e distribuir os seus 76 kg. Tudo com muito cuidado, pois a cola ainda estava molhada, sem a consistência necessária para suportar qualquer impacto.

Nos últimos quatro desfiles, aquela foi a primeira vez que Glauco nem teve tempo de olhar a sua Águia. Tenso, caminhava ao lado da comissão de frente, torcendo para que a mesa resistisse. Texera não estava menos nervoso. Mas, depois da exibição diante dos julgadores do Módulo 1 teve a certeza de que nada mais aconteceria.

O salto de Thiago para o centro do tampo foi repetido inúmeras vezes ao longo do desfile. Com a habilidade e o talento que o elevaram à posição de 1o Bailarino do Royal Ballet de Londres, seus movimentos foram sempre perfeitos e seguros.

Dias depois, descontraído e orgulhoso pelas três notas máximas no quesito, Texera sorria aliviadamente e revelava:

– No Sábado das Campeãs foi pior ainda. A cola e a fita cederam de vez. O tampo estava solto, praticamente. Mas o Thiago já estava tão treinado de onde deveria pisar, que já fazia isso até de olhos vendados.


Se o público soubesse o que estava acontecendo, certamente aplaudiria em dobro 

Fonte:  brasilfestasefolias.com.br -  Cláudio Vieira

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