quinta-feira, 28 de julho de 2016

Wilson Moreira (Show e discos)

Um Mestre na arte do que chamamos verdadeiro SAMBA, o compositor Portelense Wilson Moreira, que está perto de completar 80 anos, muitos deles dedicados ao ofício, mostra vitalidade aonde estará lançando um Show e dois discos!

Com relação à infância, relata:

- Soltei muita pipa, adorava cruzar (termo usado para o “duelo” no qual um tenta cortar a linha do outro no ar) — conta Amendoim, mais conhecido como Wilson Moreira, autor de clássicos da música brasileira como “Goiabada cascão” e “Senhora Liberdade”, ambas com seu parceiro de fé Nei Lopes. 

- Ia dibicando (manobrando a pipa) na direção da outra pipa, os caras fugiam, a gente ia atrás e gritava: “Tá com medo, tabaréu?”. Hoje a garotada não tem isso, já nasce com o computador na cabeça.

E por falar em tabaréu....

“Tá com medo, tabaréu?” é o nome do disco infantil que Moreira (ou Alicate, como é chamado por seu aperto de mão forte) prepara, apenas com canções inéditas que fez pensando nos pequenos, como “Ser criança” e “Tamanduá”. O álbum é apenas um dos projetos nos quais o compositor está trabalhando. 

Planos e Projetos....

Além do disco infantil, Wilson estreou o “Samba do Alicate”, uma roda semanal em plena Praça da Bandeira, há outro disco no forno, “Wilson Moreira em versos e quadras”, mais adiantado, já com a base instrumental gravada, também apenas com inéditas. Ainda existem os que têm o sambista como tema: o documentário “Wilson Alicate”, de Germano Fehr; um livro de partituras, com cerca de 50 músicas; uma biografia em quadrinhos, com arte de Rodolfo Gomes; e um show para celebrar seu aniversário, com direção de Adelzon Alves, que foi seu primeiro produtor. Para fechar, em 2017 ele é enredo da Bohêmios da Cinelândia.

— Estou penando para ver se consigo dizer no pé qualquer coisa até o show, surpreender todo mundo — diz Moreira, que em 1997 sofreu um AVC e desde então tem os movimentos do lado esquerdo do corpo limitados. — Quem é bamba não bambeia.

Descendência ....

- Meu avô era jongueiro, minha família tinha essa raiz — lembra. — Uma vez, estava visitando lá, e um primo me chamou pra tomar uns negócios. Fomos num recanto, a quitanda do Seu Ataliba. Um pegou uma sanfona de oito baixos, outro um cavaquinho, e começaram a puxar um calango desafio, como um partido alto, de improviso. Um troço bonito. Depois daquela temporada lá, vendo aquilo tudo, voltei com uns versos assim: “Na coité bebi cachaça de cana caiana purinha/ Comendo com a mão na cuia/ Pirão no molho e farinha” (“Coité e cuia”, lançada em 1980). Cheguei com essa cabeça pro Nei, que desenvolveu o resto. Essas coisas todas ainda devem existir lá pra dentro do Brasil.

Tradição e Velhos Tempos ......

- Gostava muito do piquenique das escolas de samba — diz, evocando uma prática pouco mencionada. — Quando a escola tirava uma colocação honrosa, juntava o povo todo pra um piquenique em Paquetá. Era bonito. O desfile era melhor também quando não tinha a cronometragem. Tinha o lado chato do desfile acabar às 14h, mas o passista fazia tanta coisa que hoje não dá tempo. Outra coisa que acabou foi o “baile da derrota”, que a escola que tirava segundo ou terceiro lugar organizava.

PORTELA e Quilombo....

Em 1968, recebeu o convite de Natal da Portela para que fosse para a azul e branco. Aceitou e estreitou ali a amizade com Candeia, com quem fundou (ao lado de outros compositores) o Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo, em 1975 — agremiação que nasceu exatamente como resposta às mudanças que o carnaval começava a apresentar:

- Seu Natal viu a Beija-Flor em 1975 e ficou falando que aquilo era bonito, os carros grandes. Quando começou aquele papo, Candeia teve a ideia de fazer uma escola que defendesse o carnaval em que a gente acreditava.

Ídolos e Gravações...

Wilson Moreira não pode ser chamado de conservador. Sua composição, embebida de tradição de terreiro, carrega outros caminhos. Admirador de Silas de Oliveira (“meu compositor favorito”) e Walter Rosa (“o Filósofo, porque usava umas palavras complicadas”), Moreira carrega desde cedo influências que ultrapassam os limites do samba:

- Ouvia muito rádio, gostava muito de brasileiros como Nelson Gonçalves, e também dos estrangeiros:  Debussy, Gershwin... Já disseram que minhas melodias lembravam Debussy. Já gravei com Paul Mauriat! E teve uma cantora venezuelana (Nancy Ramos), que fez uma versão em espanhol de “Coisa da antiga”. Virou (a cúmbia) “La abuela”.

Terreiro e Homenagens ......

O disco “Wilson Moreira em versos e quadras” traz uma panorâmica desse jeito Wilson de compor, com músicas feitas desde os anos 1950 e que se mantêm inéditas.

-  É um disco de sambas de terreiro. Gosto de samba de terreiro, de ver a poeira levantar — diz Moreira, que adianta as músicas do disco. — “Uma rainha toda especial” é uma homenagem à Portela, “Ré, sol, si, ré” é sobre o cavaquinho, “Jurema” é um samba de caboclo, “Anjo malandro” é pro Seu Natal...

Aprendizado  .....

Mesmo sendo considerado um Mestre, o Compositor da PORTELA confessa qual é o grande aprendizado que adquiriu com a idade:

-  A gente pega tanta coisa e ainda falta tanto... O maior aprendizado é saber o valor de conversar com os da antiga. Sempre que posso, gosto de ouvir gente como Nelson Sargento (92 anos). Aprendo com os mais velhos.

O que falar?  O COMPOSITORES DA PORTELA BLOG parabeniza ao grande Mestre Wilson Moreira pela postura típica de Portelense e deseja SUCESSO nesta nova empreitada!

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