quinta-feira, 10 de março de 2022

Waldir 59 (Cláudio Vieira)


59 VEZES WALDIR


Parceiro de Candeia e vencedor de oito sambas-enredos na Portela, Waldir de Souza, o Waldir 59, tinha um jeito diferente de encarar a vida. Em noite de ensaio técnico no Sambódromo, perguntamos qual foi o seu desfile inesquecível. Os olhos do compositor e diretor de harmonia viajaram pelas arquibancadas do Setor 1, procurando a Av. Presidente Vargas.

Pensou um pouco e respondeu ao pé da letra, sem dar conta que o “inesquecível”, no caso, se referia ao desfile que mais alegrias lhe dera:

- Foi em 1973, quando apresentamos o enredo “Pasárgada, o amigo do Rei”. A Escola estava imensa. Havia mais de dez mil componentes, acredito. Lembro que a bateria já se aproximava da Central do Brasil e a Wilma Nascimento, nossa porta-bandeira, ainda estava lááá na Candelária...

Essa distância representa quatro ou cinco quarteirões e outros tantos pontos de ônibus. Na época, Waldir teve que sair correndo no meio da multidão para pegar a porta-bandeira. O esforço foi tão grande que o diretor de harmonia desmaiou no meio do caminho, em pleno desfile, sendo socorrido por uma ambulância do Souza Aguiar:

- Só acordei quando já estava no hospital, entrando no soro. E arrematou: - Foi o meu desfile inesquecível. Nunca mais esqueci desse sufoco.

A entrevista havia terminado, mas Waldir nos surpreendeu, novamente:

- Ué, vocês não vão querer saber a razão do meu apelido? – estranhou.

Waldir tinha razão. Qual seria a origem do 59? Orgulhoso, respondeu:

- 59 era o final da minha matrícula no serviço público; era também a dezena final da minha identidade; era o número da minha casa; era o final da placa do meu carro; era o número do telefone da minha casa; em 59, ganhei a disputa de samba e a Portela foi campeã... Um dia, fui registrar uma ocorrência na polícia e resolvi contar essas coincidências para o delegado. Ele ficou sério e me disse: “Então, de hoje em diante, o senhor será o Waldir 59.” E acabou pegando.

A propósito: apesar do gigantismo, a Portela ainda ficou em 4º lugar no Carnaval de 1973.

Waldir faleceu em 2015, aos 88 anos, com insuficiência respiratória.

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