sábado, 19 de setembro de 2020

Momento (Porta-bandeira e Mestre-Sala 1984)

PORTELA (Mestres de Bateria)


PORTELA
Mestres da Tabajara do Samba

  
Betinho (1932 a 1962)
Oscar, Alcides e Wilson (1963)
Jaburu (1964)
Oscar (1965 e 1966)
André (1967)
Betinho (1968 a 1970)
Cinco (1972 a 1975)
Cinco e Marçal (1976)
Waldemiro (1977)
Bombeiro, Cinco, Marçal e Quincas (1978)
Cinco e Quincas (1979 e 1980)
Marçal (1983 a 1986)
Timbó (1987 a 1994)
Mug (1995)
Mug e Paulinho (1996)
Paulinho (1997)
Mug (1998 a 2002)
Catanha (2003)
Mug (2004)
Marçal (2005)
Nilo Sergio (2006 a 2020) 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Velha Guarda da PORTELA (Minha vontade - DVD)



No samba Portela na Avenida, imortalizado pela gravação de Clara Nunes em 1981, os compositores Mauro Duarte e Paulo Cesar Pinheiro afirmam que a escola de samba tem a Velha Guarda como sentinela. Ou seja, ela é aquela que vigia pelo patrimônio – no caso, o imaterial – representado pela tradição e pelo samba feitos na agremiação nascida no bairro de Oswaldo Cruz, no subúrbio carioca, em meados dos anos 1920. Embora nem sempre lembrada nos grandes momentos da escola, quando os compositores e as pastoras aparecem, seja no desfile ou no palco, a emoção é garantida – como se vê no CD e DVD Velha Guarda da Portela – Minha Vontade, que a gravadora Biscoito Fino lança neste mês.

A apresentação, gravada na quadra da escola em julho de 2015, estava na gaveta todo esse tempo e chega ao mercado em uma hora difícil para as escolas de samba – ainda há uma grande dúvida, por conta da pandemia, sobre como será o carnaval de 2021 – e para os próprios integrantes, impedidos de se apresentarem. “Fiquei feliz que esse projeto saiu, viu? Foi gravado com tanto carinho, com a quadra lotada”, relembra Monarco, um dos baluartes da Portela, na ala de compositores da escola desde os anos 1950 e que, recentemente, completou 87 anos.

A pastora Tia Surica, outro nome importante da escola, também comemora, mas lamenta as imposições trazidas pelo “novo normal”. “Não sei por que demoraram tanto para lançar. Uma pena que veio no meio de uma pandemia, não poderemos fazer show de lançamento”, diz. Ao lado deles, participaram do grupo nomes como Áurea Maria, Neide, Jane, Serginho, Marquinho do Pandeiro e outros.

Entre clássicos portelenses como Natureza, de Manacéa; Desengano, de Aniceto; e Cocorocó, de Paulo da Portela, há uma composição feita especialmente para a apresentação: Lindo, de Monarco em parceria com Noca da Portela, que versa sobre a felicidade de ver a escola entrar na avenida e o orgulho que isso dá aos torcedores. “A Portela é primeira porque é a madeira de jacarandá”, diz a letra.


Participações de peso

Batizado com o nome da canção composta por Chatim (1915-1991) e com 17 faixas, Velha Guarda da Portela – Minha Vontade tem a participação de Cristina Buarque em Quantas Lágrimas (Manacéa), samba que a cantora ajudou a imortalizar em gravação de 1974; Teresa Cristina em Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato); e Maria Rita em Coração em Desalinho (Monarco e Ratinho), gravada por Zeca Pagodinho em 1986 e revitalizada por ela em 2011, como tema de abertura da novela Insensato Coração. A direção musical ficou a cargo dos músicos Paulão 7 Cordas e Mauro Diniz, este último, filho de Monarco.

Enquanto não podem voltar aos palcos, Monarco e Tia Surica se conectam nas redes. Ele fez sua primeira live em 31 de agosto, com participações de Diogo Nogueira e Maria Rita. Embora animado, Monarco diz que prefere mesmo é estar bem perto do público. “Gosto é de subir ao palco, ver o povo cantando e sambando lá embaixo. No final, falar com todo mundo, tirar foto.”

Já Surica tem se apresentado online todo primeiro sábado de cada mês. “Fui pega de surpresa com essa história de live, mas acho que me saí bem. É diferente, né, meu filho? Falta o calor humano. Mas, dá para levar”, diz. Em outubro, ela pretende voltar com sua famosa feijoada no Teatro Rival. No mês seguinte, já pensa na festa seus 80 anos. “Se a epidemia deixar, claro.”

Cinquentenário. Embora não tenha sido concebido com esse propósito, o lançamento de Velha Guarda da Portela – Minha Vontade coincide com os 50 anos do álbum Portela, Passado de Glória, justamente o que deu o pontapé inicial para a valorização da Velha Guarda dentro das agremiações. Capitaneado por Paulinho da Viola, o disco traz nomes como os irmãos Manacéa (1921-1995), Aniceto (1912-1982), Mijinha (1918-1980), além de Ventura (1908-1974), Tia Vicentina (1914-1987), Iara (1916-1991), entre outros.

“Era um sonho do Paulinho registrar os sambas dos compositores da Portela. Ele frequentava a feijoada na casa da Tia Vicentina e foi recolhendo o repertório. Foi um disco muito importante em uma época em que o samba estava de caixa baixa”, diz Monarco, que não participou da gravação, mas contribuiu com a faixa-título.
Tia Surica também não estava no grupo original – juntou-se a ele em 1980, a convite de Manacéa. “Ele disse que eu não poderia estar fora da Velha Guarda. E nela estou até hoje, graças a Deus”, diz. Naquela altura, Surica já era uma velha conhecida da escola; desfilava desde os 7 anos, acompanhando a mãe.

O compositor e escritor Nei Lopes, autor, ao lado de Luiz Antonio Simas, do livro Dicionário da História Social do Samba, classifica Portela, Passado de Glória como um álbum “antológico”, que jogou luzes a muitos compositores – não só da azul e branco.

“Esse disco despertou atenção para outros repertórios esquecidos, alguns ainda não convenientemente conhecidos. Os Acadêmicos do Salgueiro, escola a que pertenço, têm um repertório de sambas gravados, com sucessos que remontam à década de 1940. Na Mangueira, o saudoso compositor e partideiro Tantinho, recentemente falecido, produziu e gravou, em sua bela voz, um CD duplo só com sambas de antigos compositores de sua escola. O Império Serrano também tem um repertório invejável”, diz.

Uma das artistas notoriamente impactada por Portela, Passado de Glória foi Cristina Buarque, que, em seu primeiro LP, Cristina, de 1974, incluiu Quantas Lágrimas, de Manacéa. “Ganhei esse disco de presente e fiquei louca”, diz. “Falei para o Faro (Fernando, produtor do disco), que tinha que colocar uma deles no meu primeiro álbum. Ele escolheu essa.”

Além de Cristina e do próprio Paulinho da Vioça, artistas como Clara Nunes, Beth Carvalho e, posteriormente, Marisa Monte, beberam da fonte dos compositores portelenses. Para Nei Lopes, preservar a história e as canções desses baluartes das agremiações – ele lembra que o termo tem origem no jargão militar, para identificar os defensores das tradições – é essencial para a história do samba. “Samba não é apenas um gênero musical; é um todo cultural”, diz.

Velha Guarda da Portela – Minha Vontade
Box CD e DVD, R$ 49,90
Biscoito Fino

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.