Como diz o belo samba da Velha Guarda da PORTELA: "Paulo da PORTELA, nosso Professor, Paulinho da Viola o seu Sucessor...".
Ao prestar mais uma entrevista para uma emissora de TV (Programa Bom dia Brasil), Paulinho da Viola sempre com uma postura magnífica:
Ao ser indagado sobre ter sido ligação, a época, entre a sofisticação da música da Zona Sul e a vibração do subúrbio carioca, o nobre compositor portelense comentou:
"Não, não. Isso não. Eu acho que outros fizeram isso. Eu acho que o meu trabalho é muito... porque eu sou muito de intuição. O meu trabalho é fruto de muitas experiências, principalmente na infância, onde eu tive a enorme felicidade, um prêmio de ter o pai que eu tive, um grande músico, um violonista excepcional, que tocou com grandes músicos. Fez parte da época de ouro, mesmo depois da morte do Jacob do Bandolim. O meu pai já tocava com o Jacob desde o começo dos anos 40, se eu não me engano. A primeira gravação do Jacob, meu pai estava lá e tudo. Eu tive a felicidade de poder acompanhar... Eu acompanhava muito meu pai e meu irmão também. Ele gentilmente levava a gente para as reuniões. Algumas de só instrumental, o pessoal do choro, e outras ele reunia os amigos dele. Frequentemente ele estava reunindo na casa de um ou de outro, lá em casa muitas vezes, e faziam serestas, cantavam sambas, cantavam muito as músicas dos cantores da época de ouro. E eu tive a felicidade de conviver, de ter a minha infância toda com essa música."
Sobre sua tão falada marcenaria ...
"Eu tive uma marcenaria minha, só minha, com máquinas e tudo, mas só eu entrava ali. Ninguém sabia, só a minha família. Mas eu também ainda cedo, adolescente, meu pai tinha um amigo, que era o Seu Abílio, que era marceneiro. E eu convivi muito com ele também. E aprendi muita coisa com o Seu Abílio. Tem até uma passagem interessante que ele, depois de certo tempo, foi morar em Curitiba e lá abriu uma fábrica de móveis, chamada Móveis Estilo. Ainda tenho guardado o cartãozinho dele. E sempre que a gente viajava, ia para lá, a casa dele e tudo, era um marceneiro português. Depois foi passando o tempo e a gente perdeu um pouco o contato. Eu não ia tanto à Curitiba. E um dia recebi um telefonema, isso foi nos anos de 1990, de uma pessoa que eu tinha conhecido em Curitiba, que me falou assim: ‘Olha, eu queria falar uma coisa para você. Eu trabalho em um grupo que todos os finais de semana vai a uma creche, vai a um asilo, vai a um lugar assim, e esse grupo tem uma missão e tudo. E eu, no domingo passado, estive em um asilo e quando já estava saindo, depois de tudo, encontrei um senhor e ele sorriu para mim. Eu comecei a conversar com ele e lá pelas tantas ele me disse que veio de Portugal, que era marceneiro, e ainda falou assim: ‘Tem uma coisa: eu ensinei marcenaria ao Paulinho da Viola’’. Quando ele me falou isso, até agora eu fico arrepiado. Quando ele me falou isso eu falei: ‘Como é o nome dele?’. ‘Seu Abílio’. E eu disse: ‘Pois é, é verdade’. E ele falou: ‘Então vou fazer o seguinte: domingo que vem eu vou lá de novo, e vou colocar vocês dois em contato’. E foi uma coisa de choradeira, porque eu falei que ia fazer uma brincadeira com ele. A gente gosta muito de jogar sueca, e falei que ia fazer uma brincadeira com ele. Quando ele fez a ligação, a primeira coisa que eu disse foi o seguinte: ‘Afiaste os ferros?’. Isso é o seguinte: os ferros é o que o profissional, o mestre dizia para o discípulo, o aprendiz. É uma brincadeira, se está tudo em ordem. Quando eu falei isso para ele, ele começou a rir do outro lado, ele já estava com 90 anos, e ele me falou: ‘Olha, eu já estou bom, vou voltar a trabalhar’. Falei: ‘Assim que eu for para aí vou te visitar’. Foi aquela conversa que nós tivemos, assim. E logo depois eu tive a notícia que ele tinha falecido. Então, essa coisa, eu fiquei com isso desde menino, adolescente, até agora. Eu ainda tenho umas ferramentinhas, mexo com ela, tudo, que é uma coisa que eu gosto."
Paulinho lembrou:
"Eu fui visitar o Hermínio, ele ainda morava ali no catete. Eu estava na cidade e falei: ‘Vou passar na casa do Hermínio’. Cheguei lá, ele estava em casa e me falou: ‘Olha, estou escrevendo um musical e vai se chamar ‘Fala Mangueira’. Já fiz algumas letras aqui’. Na minha cabeça, ele tinha feito um musical com o Maurício Tapajós, eles trabalhavam muito juntos, chamava-se ‘João, Amor e Maria’. Era uma coisa recente. E, na minha cabeça, bom, ele vai fazer esse musical, claro, com o Maurício, porque eles sempre trabalharam juntos. E ele me mostrou as letras. Eram umas quatro ou cinco letras, eu não me lembro agora, e ele foi fazer um café. Eu peguei aquelas letras e fiquei vendo. Eu me lembro, quando peguei a primeira letra, falava a Mangueira. Peguei a segunda letra e também. A terceira letra, quando eu comecei a ver, a melodia já veio junto. Foi assim, quando ele voltou, eu peguei a letra e falei: ‘Ó, essa letra aqui já tem uma música’. Ele pode confirmar isso."
Genialidade em fazer samba...
"Eu não sei explicar isso. Eu falei: ‘Ó, essa letra já tem uma música’. E não era uma letra, eram várias letras. O que ele fez foi o seguinte: ele pegou um microfone, pegou um violão e falou: ‘Vamos gravar para não esquecer’. Eu peguei o violão mais ou menos e pronto, vamos gravar. Gravou e eu fui embora. Para mim, ele ia colocar a música no musical, dentro do musical. Um dia recebo um telefonema dele dizendo: ‘Olha, a nossa música foi classificada no festival. Eu levei um susto. Era um daqueles famosos festivais de São Paulo. Eu levei um susto e falei: ‘Hermínio, como? Que história?’. Não, ele inscreveu a música e outras no festival em São Paulo. Eu já tinha dado algumas declarações dizendo que eu não ia participar do festival nem nada, já tinha participado do anterior. Olha, isso foi uma história."
Na Majestade do Samba...
"Mas também, inexplicavelmente, ninguém me falou nada. Nem o Seu Natal. Porque a música, eu tentei tirar a música do festival, porque eu achava que isso ia trazer um enorme problema para mim. Na época, eu era presidente da Ala de Compositores da Escola. Eles não sabem, mas eu ouvi histórias incríveis. Uma vez eu fui à Mangueira, e anunciaram: ‘Olha aqui, o grande compositor, está aqui’, o pessoal comemorou, a bateria batia. E era uma mesa que tinha outros convidados e pessoas da Mangueira, uma mesa grande. Eu agradeci, tudo, e fiquei ali. Mas o apresentador falou: ‘Olha, o Paulinho fez essa grande música, falando da nossa escola’. E eu ali muito sem graça. Mas ouvi duas senhoras que estavam sentadas, elas estavam achando que eu não estava ouvindo, mas eu ouvi. Uma falou para a outra assim: ‘Ah, ele fez essa música falando da nossa escola, porque ele sabe que se fizesse falando da escola dele não ia acontecer nada’. E eu ouvi e fiquei ali, mas isso aconteceu. Mas depois, claro, a minha sorte foi que eu fiz um samba que teve mais repercussão que o ‘Sei lá, Mangueira’, que também foi muito executado, que foi ‘Um Rio que passou em minha vida’."
Paulinho, você é daqueles personagens que extrapolam limites de paixão que seivam nossas escolas, mas acima de tudo e graças à Deus, você é PORTELENSE!
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