domingo, 10 de dezembro de 2017

PORTELA 1971 (Ary do Cavaco - Detalhe)


O papel do samba-enredo

Para tentar disputar o bicampeonato de 1971, a Portela lançou o enredo “Lapa em Três Tempos”, que exaltava o famoso bairro boêmio do Rio de Janeiro em diferentes épocas. A “Lapa de outrora”, a “Lapa de hoje” e a “Lapa do futuro” seriam apresentadas pela Portela em seu desfile.
Inspirados em um samba de 1938, interpretado por Orlando Silva, intitulado “Abre a Janela”, os compositores Ary do Cavaco e Rubens tiveram uma ótima sacada e criaram um grande samba que acabou sendo o escolhido para o desfile da azul e branco de Madureira. Gravado por Paulinho da Viola e outros cantores, o samba-enredo ganhou o mundo e já era bem conhecido do grande público antes mesmo do desfile da escola, na Avenida Presidente Vargas, naquela madrugada de 22 de fevereiro.
Pois bem, voltando ao prospecto em questão, esse papel que veio parar nas minhas mãos foi guardado com muito cuidado ao longo de anos pelo Amaury Jorio, então presidente da Associação das Escolas de Samba do Estado da Guanabara (AESEG). Isso porque no seu verso trazia um pequeno recado do Ary do Cavaco, que pedia a sua intervenção em uma questão fonográfica.
Em 1970, procurando abrir mais espaço para as escolas de samba nas lojas de discos do Brasil, a AESEG decidiu criar um selo próprio, por onde seriam lançados os discos dos sambas enredos e outras composições de autores oriundo das escolas. Para tanto, foi assinado um contrato com a gravadora Caravelle que iria imprimir os LPs e compactos.
Para aquele ano de 1971, além do disco de sambas de enredo oficial “Sambas enrêdo – 1º grupo – 1971”, a AESEG lançou compactos por escola, aonde de um lado teríamos o samba enredo da agremiação para aquele ano e do outro lado um samba de algum compositor da escola em questão. Dessa forma, Ary do Cavaco resolveu fazer um lobby e rabiscou um pedido para Amaury atrás de um prospecto do seu samba enredo.
Ary pedia que Amaury visse com o Aroldo Bonifácio – que estava trabalhando na produção fonográfica da Associação – para colocar um samba seu no lado B do compacto dedicado a Portela.
     
Texto:  Alexandre Medeiros (Rádio Arquibancada)

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